olhar versus sorriso
Sempre gostei de observar o mundo à minha volta, sobretudo as pessoas, e desde que comecei a entusiasmar-me pela actividade do sketching noto claramente que tudo começa no olhar.
Olhar com olhos de ver é um requisito necessário para melhor registar no papel e guardar na memória.
Olhar com olhos de ver carece de atenção plena, e essa concentração meditativa tem um efeito terapêutico, zen.
Também é o olhar que distingue o fotógrafo.
O olhar da Gioconda, tal como o sorriso, é especial. Os seus olhos fixam os nossos mas, ao invés de transmitir qualquer tensão, parecem compassivos.

sábado, 28 de maio de 2016

Mensagem

A palavra Mensagem, segundo o poeta, deriva anagramaticamente do sintagma latino "mens agitat molem" - é o espírito que move a matéria.

Que o meu me guie para longe deste descontentamento.


Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura,
Nada na alma lhe diz
Mais do que a lição da raiz _
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem 
Pela visão que a alma tem!

(...)

Fernando Pessoa - Mensagem 
Terceira Parte - O Encoberto
I . Os Symbolos
O Quinto Império 21.2.1933




Pity the stay-at-home,
Happy at his hearth,
Without a dream, lifting high,
To stir his embers till they burn
In that hearth he must abandon!

Pity the happy-go-lucky!
He lives because life goes on.
Nothing at heart will tell him
More than that root lesson _
To make of his life his tomb.

Age after age disappears,
Filling time with ages to come.
Being man is being discontent.
Let blind forces be overcome
By the visionary soul!

(...)

Fernando Pessoa - Message
Third Part - The Hidden One
I . The Symbols
The Fifth Empire  21.2.1993


quinta-feira, 19 de maio de 2016

Sketching nas margens do Tejo

Na manhã do sábado passado realizou-se um Workshop de Introdução ao Diário Gráfico para iniciantes na Biblioteca da Trafaria, onde o Tejo se faz ao Mar.
Dirigido sobretudo à comunidade local, os orientadores Henrique Vogado e Rita Caré procuraram incutir o espírito Urban Sketcher nos participantes.
Houve uma enorme adesão a esta iniciativa e consta que foi muito interessante e motivador.

O programa da tarde foi um encontro livre de diários gráficos pela Trafaria sem limite de adesões nem desafios específicos e, apesar do frio e do vento, participaram bastantes Urban Sketchers aos quais me juntei animadamente.

Cheguei perto da Torre de Belém no final da manhã e fui andando e fotografando até chegar ao cais de embarque.



Como só há barcos de hora a hora, enquanto esperávamos fiz o meu primeiro rabisco do dia.



O barco sai do Cais de Belém e vai para a Trafaria com uma primeira paragem em Porto Brandão.




Fui "apanhada" em plena actividade dos rabiscos:



E aqui os resultados finais:




No fim juntámo-nos todos, como de costume, para partilhar os sketchs, os cadernos, opiniões e ideias.
Gente gira, simpática, criativa e talentosa, cada um à sua maneira.
Cada vez gosto mais destes convívios.

Apanhámos o penúltimo barco do dia para regressar à nossa margem.





Ao fim da tarde o azul do céu insinuava-se timidamente por entre as nuvens mas o sol já descia na direcção da linha do horizonte.
Ainda assim, parei a meio do caminho para desenhar o Padrão dos Descobrimentos e a vista do rio Tejo até às estruturas e guindastes que tinha rabiscado na outra margem.




No fim, tive de acelerar o passo para estimular o aquecimento do meu corpo pouco agasalhado para esta primavera outonal.



quarta-feira, 18 de maio de 2016

Natureza florida

Não me lembro duma primavera com um clima tão inserto, mais parece um outono chuvoso e frio.

A natureza pujante, há meses adormecida, hibernada, desabrocha mal sente um raio de sol prazeroso.
Não imagina que dois ou três dias depois volta a sentir frio, vento e chuva como se a estação voltasse atrás.

Eu que sou uma mulher da cidade, observo fascinada a vida no campo, aqui na beira da serra.

Primeiro foram os campos a cobrir-se de flores silvestres.







Depois foram as árvores de fruto a florir.
Cerejeiras, pessegueiros, pereiras, marmeleiro e mesmo a laranjeira dão flor na primavera mas cada uma demora o seu tempo a amadurecer os frutos.








segunda-feira, 16 de maio de 2016

Vietname - o meu aniversário em Ho Chi Minh City

Regressámos a Ho Chi Minh na véspera do meu aniversário.

Desta vez, como vínhamos num voo doméstico, saímos do aeroporto num instante e foi um prazer renovado sentir o calor na pele, ver o céu azul e o sol a iluminar de cores vivas toda a cidade que nos pareceu ainda mais brilhante e animada. 
Era a mesma cidade, nós é que a víamos com outros olhos.

Para esta última etapa das nossas férias no Vietname a minha filha preparou-me algumas surpresas. 
O moderno hotel de 4* muito bem situado, era todo ele um luxo. O quarto espaçoso com duas camas enormes e uma parede inteira de vidro, janelas de alto a baixo, com uma vista fabulosa apesar do piso não ser muito alto.
Depois de dar notícias a quem nos quer bem e descansar um pouco, tomámos um duche refrescante e arranjámo-nos bonitinhas e perfumadas para sair.



O buliço da cidade já nos era familiar e optámos por ir jantar a um restaurante que já conhecíamos, o nosso preferido POPAGANDA Vietnamese Bistro.
Desta vez pedi um caril vietnamita de pato e tive de comer com garfo e faca porque me foi servida uma perninha inteira com osso. Estranhei porque agora que aprendi e ganhei jeito, prefiro comer com chopstick, pauzinhos. É bem mais elegante...
Já na esplanada do bar do hotel bebemos uma margarita, antecipando um pouco os festejos do meu aniversário.

       

Finalmente o meu dia!
Acordámos sem pressa e o pequeno almoço foi grande. Tanta variedade de tanta coisa boa no buffet que o difícil é escolher, ou não.

Subimos ao último andar para vêr a piscina e as vistas.



Decidímos ir a um museu mas tivemos de aguardar pela reabertura no horário da tarde.
Entretanto como não tínhamos fome para almoçar fômos àquele café só de bebidas e bebemos cada uma um enorme e delicioso batido, ficando alimentadas e frescas.





O Museu da Guerra - Vé Vào Công, é evidentemente um memorial à Guerra do Vietname que começou em 1959 entre o Norte e o Sul após a independência dos países da península da Indochina, sobretudo à fase em que os americanos participaram activamente no conflito, entre 1965 e 1973.
No recinto à volta do edifício estão expostos exemplares da artilharia pesada e máquinas de guerra, aviões, tanques, helicópteros, mísseis, foguetes, bombas, equipamento americano que os vietcongues capturaram ao exército dos E.U.A.
O edifício principal está didvidido em três pisos com várias salas de exposições como - os cartazes da propaganda anti-americana da época, vestígios de guerra documentados com testemhunhos e fotos, os efeitos do agente laranja, armas, fotografias do antes e depois da guerra.
Independentemente do mal também ter sido cometido pelos vietcongues, este museu realça o papel de vítima deste povo e esta realidade, documentada sobretudo com imagens, é atroz, mesmo horrivel!



Saímos de lá cheias de informação e com vontade mas sem tempo, de visitar o Museu da Independência.

Quando regressámos ao quarto do hotel tinha mais uma surpresa da minha filhota - um pequeno bolo de aniversário.



Depois de uma maravilhosa e relaxante massagem no spa do hotel preparámo-nos calmamente para sair.

Um jantar especial num restaurante com cozinha de influência francesa em que até bebemos vinho a copo para brindar às nossas fantásticas férias, à companhia uma da outra e claro, a mim e ao meu 52º. aniversário.
Só o creme brulée decepcionou...
A noite estava agradávelmente quente e as ruas cheias de gente, vietnamitas e turístas estrangeiros, novos e velhos, famílias com crianças, jovens em grupo, muito movimento automóvel e de motos, a agitação e o ruído do costume.

O dia estava quase a terminar mas em Portugal ainda nem sequer estava na hora do meu nascimento.
Adormeci tocada por uma certa nostálgia.


No dia seguinte acordei cedíssimo.
A cidade ainda estava às escuras e quase silenciosa.
Abri as cortinas e fiquei a ver o céu clarear atrás dos altos edifícios.
Mudei de posição e de súbito, numa nesga entre dois prédios, vejo o sol a despontar nitidamente acima do horizonte.
Aqui um novo dia ilumina-se.
Em Lisboa é quase, quase meia-noite. O dia do meu aniversário termina no lugar onde nasci.

Está na hora da despedida.
É dia de regressar ao Dubai onde vive actualmente a minha filha.

Bye, bye Vietnam.



terça-feira, 10 de maio de 2016

Vietname - pelo delta do rio Mekong

tour de um dia no rio Mekong foi feita com um Guia e um simpático grupo de cinco pessoas, nós duas, um canadiano reformado que já andava a passear pelo Vietname há mais de um mês, e um casal de australianos ainda novos.

A primeira paragem foi para visitar o pagode Vinh Trang, um dos mais bonitos e famosos da região.




Depois seguimos calmamente no meio do trânsito infernal para My Tho onde apanhámos o barco para atravessar o rio.





A outra margem é um emaranhado de canais, alguns bem pequenos, que dividem a ilha mas que propiciam exactamente o tipo de culturas existentes, sobretudo palmeiras de côcos e bananas.
Há barcos mais pequenos para percorrer estes estreitos canais.




Para aliciar os turistas em cada paragem há uma actividade ou produto típico para vender.
Chá de mel, caramelos de leite de côco, licores de cobras e escorpiões, frutas exóticas para provar ao som de canções populares, um folclore...





Depois fomos de carroça puxada por um cavalo até ao sítio onde almoçámos algumas especialidades locais como o peixe elephant-ear fish.
Uma refeição fresca e saborosa, comida com calma e animada com muitas conversas e troca de experiências entre as pessoas do grupo, muito interessante.



Uma mesa redonda à sombra, com vista para o canal e rodeada de árvores.


Uma curiosidade daqui e de todo o Vietname rural, é os camponeses serem enterrados nas próprias terras em lugar de escolherem um cemitério. 
Vêem-se campas coloridas por todo o campo.


Mais um passeio de barquinho nos canais até ao barco grande que nos esperava no rio e regresso a Saigão ao fim da tarde.