olhar versus sorriso
Sempre gostei de observar o mundo à minha volta, sobretudo as pessoas, e desde que comecei a entusiasmar-me pela actividade do sketching noto claramente que tudo começa no olhar.
Olhar com olhos de ver é um requisito necessário para melhor registar no papel e guardar na memória.
Olhar com olhos de ver carece de atenção plena, e essa concentração meditativa tem um efeito terapêutico, zen.
Também é o olhar que distingue o fotógrafo.
O olhar da Gioconda, tal como o sorriso, é especial. Os seus olhos fixam os nossos mas, ao invés de transmitir qualquer tensão, parecem compassivos.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Pinhal na Beira com Eira


Na Beira, ir ao pinhal até à eira passando pelo antigo pombal, é um passeio obrigatório desde a minha infância...


 

A eira são umas grandes e planas pedras de granito, abundante nesta região, onde se secam as espigas de centeio e as maçarocas de milho no final do verão.

Avanço pelos caminhos, agora mais largos devido à passagem de tractores.
Chego ao pombal que mal se avista no meio de tanto mato.
Depois de um sketch rápido feito em pé, continuo na direcção que a minha memória guardou mas sem pontos de referência visíveis.
Finalmente vislumbro a parte de cima das pequenas casas, construções simples só com uma porta que julgo servirem de arrecadação ou celeiro.
Avanço pelo meio das ervas altas e chego ao pequeno planalto com vista de longo alcance a toda a volta.
São sete horas da tarde e as lajes ao sol ainda estão bem quentes.
A luz do fim da tarde é maravilhosa.

Espreito todos os cantos e fotografo as redondezas.
Para me sentar e desenhar, decido subir a umas pedras enormes, redondas, onde se espraiam as sombras de alguns pinheiros. 
Para tal faço um pequeno corta-mato com a ajuda de uns paus para afastar as silvas e as ervas, tateando o chão que não vejo, para evitar cair ou torcer um pé nalgum buraco. Chego sã e salva ao outro lado sem me lembrar entretanto que no meio de toda aquela vegetação podia ter deparado com alguma cobra...

Já sentada e tendo observado tudo o que me rodeia, fecho os olhos para sentir e ouvir melhor.
Há cães a ladrar ao longe, piares de vários e diferentes pássaros, mais perto o balir de ovelhas invisíveis. 
Há aromas de terra quente, de erva seca, de pinheiros e outros cheiros do campo que não identifico.
O sítio é isolado. No meio da natureza mais ou menos selvagem estou em paz embora em estado de alerta, afinal sou uma mulher da cidade.

O sol vai descendo devagar enquanto desenho e pinto neste Diário Gráfico.
De vez em quando uma restolhada faz-me virar a cabeça noutra direcção, inutilmente.
Oiço um tractor a aproximar-se. Fico expectante de o ver aparecer, todavia parece ter parado na eira atrás das casas.
Arrumo as minhas coisas na mochila e regresso ao caminho, dando a volta à eira pelo carreiro debaixo.
O tractor afasta-se agora no sentido de onde veio, o mesmo para onde retorno, por isso não chegámos a cruzar-nos, nem sequer a ver-nos. No entanto, eu dei bem conta da sua presença ao passo que ele, de certeza, ignorou a minha.

Sigo devagar recolhendo algumas flores e folhas para secar.
Falho uma bifurcação e acabo por encontrar a estrada mais à frente, não muito longe do meu ponto de partida.





Os rabiscos não ficaram muito bons, mas o tempo vivido neste lugar é de boas memórias.





domingo, 26 de junho de 2016

Dentro das Muralhas no Castelo de Arraiolos

Terminado o encontro dos Évora Sketchers em Arraiolos despedi-me do grupo desejosa de subir ao ponto mais alto da vila e entrar no espaço dentro das muralhas.
Adoro os dias grandes desta época do ano.
Eram quase seis da tarde e ainda tinha muita luz para desenhar e fotografar.

















O castelo-paço, actualmente em ruínas, foi utilizado em longas temporadas por D. Nuno Álvares Pereira, segundo Conde de Arraiolos, fronteiro-mor do Alentejo e Condestável de Portugal. 
Famoso por comandar forças em número inferior ao inimigo e ganhar todas as batalhas graças ao seu génio militar, tornou-se o terror dos castelhanos no final do século XIV.





sexta-feira, 24 de junho de 2016

O Tapete está na Rua, em Arraiolos

Foi um impulso desafiante que me fez decidir ir sozinha a um encontro de Urban Sketchers sem conhecer ninguém à partida.
Mais tarde soube que um simpático casal de gente gira dos FS 2'' também ia participar mas isso não influenciou a minha decisão de ir em expedição independente e solitária.
Apesar de alguns reveses no plano inicial, mantive a minha vontade inabalável e fui.
O encontro foi organizado pelos Évora Sketchers, um grupo muito dinâmico que me acolheu de modo bem alentejano que tanto aprecio. Obrigada!





O encontro teve o apoio da Câmara Municipal de Arraiolos e inseriu-se nas actividades e festas da vila e do evento promocional "O Tapete está na Rua", literalmente.







Também foi interessante visitar o Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos situado num edifício recentemente restaurado mas com vários elementos antigos, exteriores e interiores, bem preservados.



No final da tarde houve partilha dos Diários Gráficos e consta que estão a pensar organizar uma exposição dos nossos sketches.




sexta-feira, 17 de junho de 2016

Outro fim de tarde, outra capelinha

Isto de visitar as capelinhas é uma expressão bem portuguesa e geralmente não tem o significado literal.

Fiz-me à estrada sozinha com aquela sensação libertadora de ir para onde me apetecesse.
Só tinha a recomendação de procurar um moinho de água numa determinada estrada. 
Se há coisa que me inspira é a água. 
Saudades do mar...






Depois de tirar bastantes fotografias de vários ângulos, meti-me outra vez no carro e segui sem destino determinado.
Quando vi uma tabuleta a indicar Tranvancinha, numa estrada à esquerda e a subir, não hesitei.
Esta zona é feita de montes e vales. 
As elevações têm boas vistas e são elas próprias, quase sempre, por razões de estratégia geográfica desde os antepassados, sítios interessantes.
Chegada à vila que pelos vistos tem apenas cerca de quinhentos habitantes, percorri ruas e ruelas, vi casas pequenas e grandes, velhas e novas, incaracterísticas, até que cheguei a um pequeno largo onde se situava um edifício de arquitectura clássica da região, um certo ar senhorial, parei e fiquei a observar os pormenores.
Nisto surge ao portão um senhor já com alguma idade que deve ter pensado que eu andava perdida, talvez, e acenando fez menção de vir ter comigo.
Daria uma bela converseta mas eu queria mesmo era desenhar.
Sorri, acenei e arranquei por outra rua. 
Segui uma direcção de miradouro que não encontrei, apenas casas de granito completamente em ruínas num ponto alto mas pouco interessante.
Não quis voltar para trás e continuei pela estrada de terra batida que segundo o meu sentido de orientação, daria a volta à vila e não me enganei. Fui desembocar na estrada principal, na entrada oposta de Tranvancinha, e vislumbrei à minha esquerda, em cima de um penedo, a capela que eu ia desenhar.
Dei a volta e estacionei por detrás num terreno aberto onde pelos vistos se faz anualmente a Feira dos Santos em 1 de Novembro, conhecida na região pela Feira dos Torresmos.

Heis a Capela da Senhora das Virtudes.



Desenhei-a sentada nesta lage de granito e se não estivesse com frio e a anoitecer tinha feito mais sketches porque, apesar das linhas simples todos os ângulos são desafiantes.







quinta-feira, 16 de junho de 2016

Passeio no sopé da Serra da Estrela

Desta vez saí acompanhada pela minha prima e com o trajecto já definido.

Subimos a Serra pelo lado de São Romão.
Fomos até às piscinas fluviais da Lapa dos Dinheiros.
A época balnear parece que só começa no final do mês ou mesmo em Julho, não sei bem, mas a piscina estava praticamente vazia pois foram retiradas as placas de madeira que formam um dique e conservam a água, bem fresca por sinal, na zona mais alta.

Já aqui tinha estado no ano passado em actividades fotográficas organizadas pelos Festivais do Bosque como podem ver aqui.
Desta vez fui mesmo para desenhar. 




Felizmente a minha prima levou um livro para ler enquanto eu me dedicava ao sketching porque uma das questões importantes desta actividade é que ela é solitária e tem um ritmo difícil de partilhar com quem não a pratica e quer seguir viagem mais rápido.

Antes já tínhamos ido a uma das primeiras Centrais Hidroeléctricas do País, construída no início do século XX. 
O edifício está fechado e já não é habitado visto que todo o sistema funciona agora por automatismos e controle informático.




Depois ela lembrou-se de irmos beber um chá e petiscar qualquer coisa ao Museu do Pão em Seia que tem um café com uma esplanada e uma vista fabulosa para o vale virado a poente mas já estava fechado, encerra às 18 horas durante a semana...

Acabámos por subir mais um pouco à procura de algum sítio interessante mas já estava tudo fechado. 



Parámos para ver as vistas e junto ao Cabeço das Fragas descobrimos uma pequena capela com um nome estranho.
É sobejamente sabido que há por aqui muito emigrante em França mas será esta uma santa de devoção francesa?