Na Beira, ir ao pinhal até à eira passando pelo antigo pombal, é um passeio obrigatório desde a minha infância...
A eira são umas grandes e planas pedras de granito, abundante nesta região, onde se secam as espigas de centeio e as maçarocas de milho no final do verão.
Avanço pelos caminhos, agora mais largos devido à passagem de tractores.
Chego ao pombal que mal se avista no meio de tanto mato.
Depois de um sketch rápido feito em pé, continuo na direcção que a minha memória guardou mas sem pontos de referência visíveis.
Finalmente vislumbro a parte de cima das pequenas casas, construções simples só com uma porta que julgo servirem de arrecadação ou celeiro.
Avanço pelo meio das ervas altas e chego ao pequeno planalto com vista de longo alcance a toda a volta.
São sete horas da tarde e as lajes ao sol ainda estão bem quentes.
A luz do fim da tarde é maravilhosa.
Espreito todos os cantos e fotografo as redondezas.
Para me sentar e desenhar, decido subir a umas pedras enormes, redondas, onde se espraiam as sombras de alguns pinheiros.
Para tal faço um pequeno corta-mato com a ajuda de uns paus para afastar as silvas e as ervas, tateando o chão que não vejo, para evitar cair ou torcer um pé nalgum buraco. Chego sã e salva ao outro lado sem me lembrar entretanto que no meio de toda aquela vegetação podia ter deparado com alguma cobra...
Já sentada e tendo observado tudo o que me rodeia, fecho os olhos para sentir e ouvir melhor.
Há cães a ladrar ao longe, piares de vários e diferentes pássaros, mais perto o balir de ovelhas invisíveis.
Há aromas de terra quente, de erva seca, de pinheiros e outros cheiros do campo que não identifico.
O sítio é isolado. No meio da natureza mais ou menos selvagem estou em paz embora em estado de alerta, afinal sou uma mulher da cidade.
O sol vai descendo devagar enquanto desenho e pinto neste Diário Gráfico.
De vez em quando uma restolhada faz-me virar a cabeça noutra direcção, inutilmente.
Oiço um tractor a aproximar-se. Fico expectante de o ver aparecer, todavia parece ter parado na eira atrás das casas.
Arrumo as minhas coisas na mochila e regresso ao caminho, dando a volta à eira pelo carreiro debaixo.
O tractor afasta-se agora no sentido de onde veio, o mesmo para onde retorno, por isso não chegámos a cruzar-nos, nem sequer a ver-nos. No entanto, eu dei bem conta da sua presença ao passo que ele, de certeza, ignorou a minha.
Sigo devagar recolhendo algumas flores e folhas para secar.
Falho uma bifurcação e acabo por encontrar a estrada mais à frente, não muito longe do meu ponto de partida.