olhar versus sorriso
Sempre gostei de observar o mundo à minha volta, sobretudo as pessoas, e desde que comecei a entusiasmar-me pela actividade do sketching noto claramente que tudo começa no olhar.
Olhar com olhos de ver é um requisito necessário para melhor registar no papel e guardar na memória.
Olhar com olhos de ver carece de atenção plena, e essa concentração meditativa tem um efeito terapêutico, zen.
Também é o olhar que distingue o fotógrafo.
O olhar da Gioconda, tal como o sorriso, é especial. Os seus olhos fixam os nossos mas, ao invés de transmitir qualquer tensão, parecem compassivos.

domingo, 31 de julho de 2016

Alandroal e Estremoz - dia do regresso

Quando vinha na direcção de Monsaraz passei por um entroncamento com uma seta para o Alandroal.
Porque nunca lá tinha ido e porque me lembrei de que os Évora Sketchers fizeram lá o encontro de Natal que ficou memorável por ser o mais frio por oposição a este mais quente na Amareleja, resolvi ir por ali.
E fui, sem GPS, seguido as setas e indicações topográficas, mas sem fazer a mínima ideia da distância que iria percorrer até lá chegar.
Passava das quatro da tarde, hora de calor, domingo... acho que os espertos dos alentejanos estavam recolhidos a dormir uma sesta pois quase não vi ninguém nas várias vilas e aldeias por onde passei.
Estradas secundárias não muito largas mas em bom estado, pouquíssimo trânsito, campo a perder de vista, algumas elevações de terreno e muita planície.
Em pouco mais de uma hora cheguei ao Alandroal, dirigi-me ao centro e estacionei na melhor sombra que encontrei perto do Castelo.





Mal saí do carro comecei a ouvir uns acordes musicais, entrei no Castelo e, num recanto atrás da Igreja rodeado de muralhas, com uma acústica fantástica, estava a decorrer um festival de Bandas Filarmónicas.



E foi assim, da forma mais imprevista, que passei uma boa parte da tarde domingueira a ouvir música naquele ambiente simpático.
Algumas músicas não faziam muito o meu género, eram mais ao estilo filarmónico mas também tocaram outras melhores e mais Rock Pop, como por exemplo dos Queen, uma das minhas bandas preferidas.




Após analisar os percursos para casa no Google Maps, decidi ir ainda a Estremoz, uma cidade linda e cheia de edifícios interessantes para desenhar.




Quando reparei que eram oito e meia da noite ainda pensei em jantar mas os restaurantes e cafés, sobretudo os que tinham esplanadas, estavam cheios com toda a gente a olhar para os ecrãs de televisão a ver futebol.
Assim resolvi voltar à estrada, desta vez sem mais desvios, direitinha para casa.

Quando cheguei as ruas estavam a encher-se de festa, os carros apitavam freneticamente, as pessoas pulavam histéricas, a cantar, a gritar - Somos campeões! Somos campeões!
A Selecção Nacional tinha acabado de ganhar o jogo final e consagrava-se Campeã Europeia de Futebol!


sábado, 30 de julho de 2016

Mosaraz e Alqueva - o dia do regresso

Depois de passar uma boa parte da manhã numa de photograph and sketch em Carrapatelo, voltei à Quinta de São Jorge para o check-out.
Bagagem arrumada, despedidas feitas e ala novamente para Monsaraz que ao sol tem outra vida. 


 



As lojas para turistas têm artigos giríssimos e artesanato local, sobretudo olaria, muito apelativo.



Almocei num terraço com vista, uma salada colorida e cheia de sabor - ainda um dia me hei-de aventurar a fazer sketchs de comida. 
Enquanto desenhava e pintava a paisagem, cedi à tentação de pedir uma sobremesa - Sericaia com Ameixas de Elvas, mas foi uma decepção. Nem a ameixa era a verdadeira nem a receita da sericaia era a famosa.



A barragem do Alqueva alterou muito o Alentejo. 
Indicaram-me uma "praia" ali perto mas, embora o calor incitasse a um mergulho, só molhei os pés, com sandálias e tudo para refrescar mais, e fiz-me de novo à estrada.








Carrapatelo - o dia de regresso

Domingo, último dia do fim de semana viajado, acordei cedo mas sem pressas.
Depois do pequeno almoço saí de caderno na mão para explorar as redondezas.

Aqui sim, há casas típicas que são uma inspiração para os rabiscos.



Também há outras casas atípicas, mas não merecem nem uma fotografia.







sexta-feira, 29 de julho de 2016

Amareleja ao fim da tarde - ainda muito quente

O calor é o tema de conversa quando se fala da Amareleja.
Até a TVI andou por lá nesse dia a entrevistar as pessoas sobre essa "problemática" como se fosse notícia.
Mas estava calor, não há dúvida. 
Às 18 horas estavam, oficialmente, 39 graus centígrados. 
Não me lembro de ter bebido tantos litros de água e, durante todo o dia, só fiz um xi-xi antes de almoço e outro antes de jantar. Impressionantes as reacções do corpo para não desidratar...

Reunidos novamente na Praça da República fomos agraciados com o característico Cante Alentejano do Grupo Coral da Sociedade Recreativa Amaralejense e logo de seguida do Grupo Coral da Casa do Povo da Amareleja.

Só consegui desenhar o primeiro grupo e enquanto o segundo cantava as suas modas ainda fui completando o desenho visto os homens terem ficado por ali nas redondezas.






E a famosa torre do relógio que não dá horas certas, mas destaca-se na praça e em toda a vila.



Os sketchers que regressavam a Lisboa e arredores estavam com alguma pressa mas os de Évora nem por isso, de modo que ainda fomos beber mais qualquer coisa fresca e dar mais dois dedos de conversa que o convívio é muito importante nestes encontros. 

Acabei por jantar por ali mesmo, na Adega Piteira, umas costeletas de borrego grelhadas com muita salada mista bem temperada e algumas batatas fritas genuínas. E como já tinha prevaricado na dieta, regalei-me com um delicioso pudim de ovos também caseiro.


Da Amareleja fica-me a memória do calor abrasador bem como da forma calorosa que as suas gentes têm de receber os visitantes.

Pelas estradas escuros e sob um céu estrelado, regressei à Quinta de São Jorge na estrada de Carrapatelo.
Foi uma viagem calma graças ao provecto mas fiável carrinho que passou os 200.000 quilómetros neste trajecto continuando a somar, e ao bendito GPS que não me deixa hesitar nos cruzamentos.
Já no monte, sentada numa das cadeiras à volta da piscina, ainda estive a observar as estrelas e a apreciar os sons e cheiros da noite de verão alentejano, antes de me recolher para o merecido descanso.



quinta-feira, 28 de julho de 2016

Amareleja - a vila mais quente do Alentejo

No sábado fui ao 40º. Encontro dos Évora Sketchers na Amareleja.

Saí do alojamento, o mais cedo possível com o pequeno almoço tomado, e fiz o percurso sem paragens apesar da paisagem e dos lagos formados pelo Alqueva merecerem belas fotografias. 

Cheguei mesmo em cima da hora marcada.
Depois de um café saboroso, das apresentações e saudações, das sugestões do presidente da Junta de Freguesia, cada um foi desenhar o que mais lhe apeteceu.

Comprei um chapéu de palha à ceifeira, numa loja tipo drogaria à moda antiga que vende de tudo e mais alguma coisa. Bem castiça!
Andei a deambular pelas ruas, passei pela casa da palmeira, um dos ex-libris da terra segundo o presidente José António Valadas, mas não senti o apelo do desenho...
Deambulando por aquelas ruas verifiquei que a maior parte das casas típicas, piso térreo com uma porta entre duas janelas, foram restauradas, ou melhor, remodeladas e as faixas azul ou amarelo ocre em paredes caiadas foram substituídas por azulejos ou mármores em paredes cremes ou coisa que o valha, lamentável...
A meio da manhã já estava a ficar bastante calor e acabei por me instalar à sombra, numa mesa de pedra de um pequeno parque de merendas com grandes árvores frondosas, junto a uma escola infantil. 
Rabisquei e aguarelei o primeiro desenho do dia, só para aquecer...

Voltei à Praça da República, o ponto de encontro, a fim de seguirmos juntos para o Baldio onde seria servido o almoço.
Primeiro petiscámos uns maravilhosos queijos de cabra, nas variedades fresco e curado, um tipo de paio e umas fatias finíssimas de papada de porco, tudo com o delicioso pão alentejano. 
Depois comi o primeiro gaspacho da minha vida a acompanhar sardinhas e carapaus assados. Rematámos com melancia bem fresca. 
Muito calor, boa conversa e vários sketchs em cima da mesa.

Embrenhei-me no parque das merendas e, sentada em cima de uma mesa de pedra, à sombra, perto do pequeno lago formado por uma represa, finalmente fiz um desenho capaz.


No fim, ainda com as tralhas todas espalhadas pela mesa, pus-me a filmar um rebanho de cabras que passava por ali a saltitar quando de repente um dos cães, enorme, me aparece mesmo à frente da cara e me prega um susto que me faz saltar para cima da mesa. 
Sem esforço nenhum o cão salta atrás de mim e eu em pânico a apanhar os cadernos, os pincéis, o copo de água e as aguarelas enquanto o tentava enxotar como se fosse uma galinha - Chô! Chô!
Só depois vi que não tinha parado de filmar e ficou tudo gravado. Hilariante!

Para voltar ao centro da Amareleja apanhei boleia do senhor Valadas que fez questão de me ir mostrar a Central Solar Fotovoltaica, a maior do mundo com sistema de orientação dos painéis solares, e os canteiros que a Junta tem colocado em algumas ruas.



No braseiro da tarde, antes de recolher a um café com ar condicionado e águas frescas, juntei-me a alguns sketchers para desenhar a Igreja Matriz.





terça-feira, 26 de julho de 2016

Visão noturna

Saí de Monsaraz noite cerrada.
Um ventinho refrescante e uma temperatura agradável para conduzir de janelas abertas com os cheiros do campo a inebriarem-me.

Conforme ia descendo o monte, onde lá no alto se situa a vila, ia apreciando os jogos de luz e sombras, as muralhas e as casas iluminadas.

Já no vale e a uma certa distância, tive a visão mágica.



Numa estrada escura onde não me atrevi a parar, nem para tirar uma fotografia que evidentemente, sem uma máquina com lente especial, ficaria muito aquém do que os meus olhos viam, retive a imagem na minha cabeça e assim que cheguei ao quarto passei-a para o caderno.

Talvez seja uma ilustração distorcida pela minha memória, todavia revela o encanto que me inspirou.


segunda-feira, 25 de julho de 2016

Monsaraz - a primeira noite

Estava um dia bastante quente e adivinhava-se um fim de semana de intenso calor. 
Ideal para viajar pelo meu querido Alentejo.

Parti a meio da tarde e a viagem decorreu calmamente. 
Depois de fazer o check-in na Quinta de São Jorge, rumei à vila de Monsaraz situada a poucos quilómetros dali.
A ideia era apanhar o pôr do sol visto de lá mas já era tarde demais para o conseguir. 
Ainda assim tirei algumas fotografias interessantes.





Acho linda esta conjugação de xisto e paredes caiadas.



O anilado do céu e a lua em crescente.




Enquanto observava o cair da noite, sentada nos degraus do pelorinho, fui petiscando o meu farnel e ainda fiz uma tentativa de sketching noturno. 


Difícil, muito difícil.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Avieiros do Tejo

Gosto de viajar.
Não é preciso ir muito longe, basta ir.
As probabilidades de descobrir algum sítio "novo" são imensas e mesmo os lugares revisitados têm outros encantos.

Para variar atravessei o Tejo na ponte de Vila Franca e logo depois virei para norte pelos caminhos agrícolas.
Uma estrada estreita, na larga lezíria, ao longo do rio.
Mal entrei em Salvaterra de Magos segui as indicações para Escaroupim.

Ia na senda do cais palafítico de uma das últimas aldeias de pescadores do Tejo, os avieiros, assim chamados porque descendem de comunidades de pescadores que vieram da Praia de Vieira, no início do século XX, à procura de melhores condições de vida.








Muito difícil, para mim, é pintar a água. Desde a cor aos reflexos passando pelo brilho, nada se parece.
Ainda assim gosto deste sketch e, sobretudo, de ir conseguindo superar, a pouco e pouco, os desafios que me proponho.



Voltei com vontade de reler o livro Avieiros de Alves Redol.